segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Queimadas

QUEIMADAS
A Temperatura do Ar e do Solo Perda de nutrientes na fumaça

Um dos efeitos mais imediatos de uma queimada é a elevação da temperatura local, seja do ar, seja do solo. Os poucos dados de que dispomos mostram que a temperatura do ar na chama pode atingir 800ºC ou mais. Todavia, esta elevação é de curta duração; o fogo passa rapidamente. No solo a elevação é também momentânea, porém bem menos intensa. Dentro do solo, a 1, 2, 5 cm de profundidade, a temperatura pode elevar-se apenas em alguns poucos graus. Uma pequena camada de terra é suficiente para isolar termicamente todos os sistemas subterrâneos que se encontram sob ela, fazendo com que mal percebam o fogaréu que lhes passa por cima. Graças a isto, estas estruturas conseguem sobreviver e rebrotar poucos dias depois, como se nada houvesse acontecido. Estes órgãos subterrâneos perenes funcionam, assim, como órgãos de resistência ao fogo.

A Transferência de Nutrientes

Outro efeito do fogo, de grande importância ecológica para os Cerrados, é a aceleração da remineralização da biomassa e a transferência dos nutrientes minerais nela existentes para a superfície do solo, sob a forma de cinzas. Desta forma, nutrientes que estavam imobilizados na palha seca e morta, inúteis portanto, são devolvidos rapidamente ao solo e colocados à disposição das raízes. Existem hoje indicações de que estes nutrientes, uma vez na superfície do solo, não são profundamente lixiviados pela água das chuvas, mas, ao contrário, seriam rápida e avidamente reabsorvidos pelos sistemas radiculares mais superficiais, principalmente do estrato herbáceo. De certa forma, o fogo transferiria nutrientes do estrato lenhoso para o herbáceo, beneficiando a este último.

Todavia, durante uma queimada nem todos os nutrientes vão obrigatoriamente para a superfície do solo, sob a forma de cinzas. Grande parte deles é perdida para a atmosfera como fumaça. Cerca de 95% do N presente na fitomassa combustível volatilizam-se, retornando à atmosfera como gás. A metade dos outros nutrientes, como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxôfre entra em suspensão no ar sob a forma de micropartículas de cinza, constituindo a parte visível da fumaça. Assim, a grande perda de nutrientes provocada pelo fogo reside nesta forma de transferência para a atmosfera e não na lixiviação dentro do solo, como se imaginava. A névoa seca que escurece os céus do Brasil Central na época das queimadas (julho, agosto) é uma demonstração visível dessa enorme perda de nutrientes. Numa estimativa grosseira, poderíamos dizer que o Parque Nacional das Emas, com seus 131.832 ha de Cerrado, queimados integralmente no ano de 1994, perdeu para a atmosfera algo em torno de 3.000 T de nitrogênio, 220 T de fósforo, 1.000 T de potássio, 1.800 T de cálcio, 400 T de magnésio, 450 T de enxôfre, totalizando cerca de 6.800 T de nutrientes minerais sob forma elementar.

Felizmente, estes nutrientes em suspensão na atmosfera acabam por retornar ao solo, seja por gravidade, seja por arraste pelas gotas de chuva. Um balanço feito em cerrados de Pirassununga, entre o que saía e o que retornava anualmente, permitiu-nos avaliar que, se as queimadas fossem feitas em intervalos de 3 anos, o "pool" de nutrientes no ecossistema local praticamente não sofreria prejuízos.

O Distrito Federal contabilizou, de 1º de janeiro até 24 de agosto, 3,422 mil incêndios florestais e queimadas na região. Pensando na prevenção desses incêndios, a Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAPDF) garantiu a realização do I Encontro dos Agricultores do Distrito Federal sobre Queimada Controlada e Incêndios Florestais, que acontece no dia 30 de agosto, no Colégio Agrícola de Brasília, em Planaltina.
O evento pretende despertar a comunidade rural para o problema das queimadas, que são vistas, pelos agricultores, como uma prática alternativa e barata para a limpeza e renovação de pastagens.
“Vamos instruir os agricultores quanto à queimada controlada, na adoção de práticas alternativas ao uso do fogo na agricultura. Também vamos divulgar medidas de prevenção e combate aos incêndios florestais”, disse a coordenadora do encontro, Alba Evangelista Ramos.
Segundo Alba, a realização do evento, organizado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do DF (SEAPA), vai trazer novos conhecimentos e tecnologias alternativas ao uso do fogo na área rural.
“O uso desses conhecimentos trará, a médio e longo prazos, benefícios ao meio ambiente, pela redução dos processos erosivos e perda de solo e do lançamento de fuligem no ar, melhorando a qualidade do ar da população na região”, afirma a coordenadora do evento.
Dados da UNESCO para o DF mostram que 42,32% do seu território são ocupados por áreas rurais, que a cada estação de seca (seis meses por ano) passa por momentos críticos, por causa de constantes incêndios e queimadas. Os resultados dessas práticas contribuem bastante para as mudanças climáticas, prejudicando, também, a saúde humana.

Fonte: http://eco.ib.usb.br/cerrado/fogo